Mais de duas décadas após um dos maiores escândalos políticos da história de Guarulhos, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a família do ex-prefeito Néfi Tales, morto em 2003, devolva à Prefeitura uma série de bens adquiridos com recursos supostamente desviados da administração municipal.
A decisão judicial representa um marco no combate à improbidade administrativa e encerra um processo que se arrastava desde 1998, envolvendo o espólio do ex-prefeito, seus familiares e ex-assessores.
Bens adquiridos com dinheiro público
Segundo o Ministério Público, os bens foram comprados durante os primeiros oito meses do mandato de Néfi Tales, iniciado em 1997. Entre os itens que deverão ser devolvidos estão:
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Um prédio localizado na Rua Dr. Miguel Vieira Ferreira, no Jardim Zaíra
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Seis fazendas
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Um sítio
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Um apartamento de alto padrão
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Uma mansão
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Diversos veículos
O valor estimado do patrimônio à época ultrapassava R$ 4,2 milhões, considerado incompatível com a renda declarada do ex-prefeito.
Ascensão financeira suspeita
Antes de assumir o cargo, Néfi Tales enfrentava sérias dificuldades financeiras: acumulava dívidas, tinha a casa hipotecada e emitia cheques sem fundos. Após sua posse, quitou débitos, aumentou o capital social de sua empresa — a Consmac Indústria, Comércio e Construções Ltda — e passou a adquirir imóveis pagos em dinheiro vivo.
Um corretor ouvido durante a investigação relatou ter recebido comissão em uma caixa de sabão em pó, evidenciando a informalidade e suspeita nas transações.
Decisão judicial e argumentos da defesa
A 4ª Câmara de Direito Público do TJ-SP confirmou a sentença de primeira instância, decretando a perda dos bens “acrescidos ilicitamente ao patrimônio” da família Tales. O desembargador Osvaldo Magalhães, relator do caso, destacou a “extraordinária e escandalosa fortuna” acumulada em tempo recorde e a ausência de justificativas plausíveis para a origem dos recursos.
A defesa alegou que não houve comprovação de prejuízo ao erário e que, no máximo, o ex-prefeito teria omitido rendimentos no Imposto de Renda. O argumento, no entanto, não convenceu os magistrados.
Reação da família
Nas redes sociais, Néfi Tales Filho afirmou que a família é vítima de um “grande golpe” e prometeu recorrer da decisão. A declaração reacendeu o debate sobre a responsabilização de herdeiros em casos de improbidade administrativa.