Nos últimos anos, Portugal tornou-se um dos destinos preferidos de estudantes brasileiros que buscam ensino superior de qualidade, segurança e uma experiência internacional em um país de língua portuguesa. No entanto, o sonho acadêmico tem esbarrado em um obstáculo cada vez mais difícil de contornar: o mercado imobiliário.
Aluguéis em alta e oferta em queda
Lisboa, Porto, Coimbra e outras cidades universitárias portuguesas têm registrado aumentos expressivos nos preços dos aluguéis. Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Portugal, o valor médio dos arrendamentos subiu mais de 30% nos últimos três anos, impulsionado pela alta demanda e pela escassez de imóveis disponíveis.
Estudantes brasileiros, que muitas vezes chegam ao país com orçamento limitado e dependem de bolsas ou apoio familiar, enfrentam dificuldades para encontrar moradias acessíveis. Quartos individuais em residências estudantis ou apartamentos compartilhados podem ultrapassar os 400 euros mensais — valor que representa uma parcela significativa do custo de vida.
Residências universitárias insuficientes
As universidades portuguesas oferecem residências estudantis, mas a quantidade de vagas está longe de atender à demanda. Muitos estudantes relatam que não conseguem sequer se inscrever para uma vaga, devido à alta concorrência e aos critérios de prioridade que favorecem alunos em situação de vulnerabilidade social ou com nacionalidade europeia.
Com isso, a alternativa é recorrer ao mercado privado, onde os preços são mais altos e as exigências dos proprietários — como fiador local, caução elevada e contratos longos — dificultam ainda mais o acesso.
Impacto da gentrificação e do turismo
O crescimento do turismo e a popularização de plataformas como Airbnb também contribuíram para a redução da oferta de imóveis para arrendamento de longa duração. Muitos proprietários preferem alugar para turistas, obtendo maior rentabilidade, o que afeta diretamente os estudantes e residentes permanentes.
Lisboa e Porto, por exemplo, têm bairros inteiros transformados por esse fenômeno, tornando o acesso à moradia não apenas caro, mas também geograficamente restrito.
Adaptação e estratégias
Diante desse cenário, estudantes brasileiros têm buscado alternativas criativas: formar grupos para dividir apartamentos, morar em cidades menores e mais baratas, ou até mesmo recorrer a redes de apoio entre brasileiros já estabelecidos em Portugal.
Além disso, organizações estudantis e associações de imigrantes têm pressionado universidades e autoridades locais por políticas públicas que ampliem a oferta de moradia estudantil e regulem o mercado de arrendamento.
Depoimentos que revelam a realidade
“Cheguei em Coimbra com tudo pronto para começar o mestrado, mas levei quase dois meses para encontrar um quarto que coubesse no meu orçamento”, conta Ana Luiza, estudante de literatura. “Foi um período muito estressante, e quase precisei voltar ao Brasil.”
Já Lucas, aluno de engenharia no Porto, relata: “Divido apartamento com mais três pessoas. É apertado, mas é o que conseguimos pagar. A universidade não tinha vaga na residência, e os anúncios que encontramos pediam fiador português, o que não temos.”