Instaurada em novembro de 2024 no Senado Federal, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas — popularmente chamada de CPI das Bets — vem revelando uma teia de irregularidades envolvendo casas de apostas online, influenciadores digitais, e até possíveis esquemas de manipulação de resultados esportivos no Brasil.

Ao longo de seis meses de investigações, a comissão expôs um setor bilionário marcado pela falta de fiscalização, suspeitas de lavagem de dinheiro e práticas lesivas ao consumidor. O relatório final da CPI foi aprovado em março deste ano, com uma série de recomendações legislativas e pedidos de indiciamento.

Influenciadores sob os holofotes

Um dos focos da CPI foi a atuação de influenciadores digitais na promoção de casas de apostas. A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da comissão, apontou que diversas personalidades das redes sociais estariam recebendo comissões milionárias por divulgar plataformas de apostas, muitas vezes sem qualquer aviso sobre os riscos envolvidos.

O caso mais emblemático envolveu a influenciadora Virgínia Fonseca, que teria recebido R$ 50 milhões em adiantamentos e bonificações atreladas às perdas dos apostadores que utilizavam seu código de indicação. A prática levanta dúvidas sobre conflitos éticos e a exposição de públicos vulneráveis, como adolescentes.

Esquemas de manipulação de resultados

Outro ponto crítico investigado pela CPI foi a suspeita de manipulação de partidas esportivas, principalmente no futebol. De acordo com o relatório final, há evidências de que empresários, intermediários e até familiares de jogadores estariam envolvidos em esquemas para influenciar resultados a fim de beneficiar apostas específicas.

Bruno Tolentino, tio do jogador Lucas Paquetá, é um dos citados pela comissão. Ele, junto aos empresários Thiago Chambó e William Rogatto, teve o indiciamento recomendado por participação em manipulações de resultados em apostas.

Cambistas de apostas e atuação clandestina

A CPI também revelou a existência de uma nova figura no mercado paralelo: o “cambista de bets”. Esses intermediários operam fora da legalidade, oferecendo apostas a pessoas físicas — muitas vezes menores de idade — e movimentando milhões de reais através de redes sociais e aplicativos de mensagens.

Sem qualquer controle estatal, esses agentes atuam em nome de casas de apostas estrangeiras sem licença para operar no Brasil, o que dificulta ainda mais a fiscalização e o combate a fraudes.

Resistência política e denúncias de lobby

Durante os trabalhos, a CPI enfrentou resistência interna. A senadora Soraya denunciou que pelo menos cinco parlamentares estariam atuando como “lobistas” das casas de apostas, barrando convocações e blindando empresários de depoimentos públicos. A acusação provocou tensão nos bastidores do Senado e trouxe à tona a força política desse setor.

Propostas e consequências

O relatório da CPI recomenda a criação de novos crimes específicos relacionados à manipulação de apostas e à atuação ilegal de influenciadores. Também propõe alterações na legislação esportiva e na regulamentação das apostas.

Em paralelo, o governo federal sancionou a Lei 14.790/2023, conhecida como "Lei das Bets", que regulamenta o setor no Brasil. A nova legislação exige licenças para operação, cria tributos sobre a receita bruta das empresas e impõe mecanismos de transparência e combate à lavagem de dinheiro.

O que vem a seguir?

A CPI das Bets encerrou seus trabalhos, mas seus desdobramentos continuam sendo acompanhados de perto pelo Ministério Público, Receita Federal e órgãos reguladores. Há expectativa de que novas investigações sejam abertas com base nos dados obtidos.

A era das apostas online chegou ao Brasil com força. Agora, cabe ao Congresso e aos órgãos de controle garantir que ela se desenvolva dentro da legalidade e com responsabilidade social.

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