A Reag Investimentos, uma das principais gestoras de recursos do país, vive um momento de profunda reestruturação após ser alvo de uma megaoperação da Polícia Federal que investiga o uso de fundos financeiros por organizações criminosas. No epicentro dessa turbulência está a saída de seu fundador, João Carlos Mansur, que renunciou ao cargo de presidente do Conselho de Administração e vendeu sua participação majoritária na companhia.
A venda e a nova configuração de controle
A transação envolveu a venda de 87,38% das ações da Reag por cerca de R$ 100 milhões, além de uma parcela variável vinculada à receita operacional líquida da empresa pelos próximos cinco anos. O controle foi assumido pelos principais executivos da gestora, por meio da holding Arandu Capital Partners, que agora planeja realizar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para os acionistas minoritários.
A decisão foi comunicada ao mercado como uma medida para “proteger a integridade e a reputação da Reag Investimentos” diante das “infundadas especulações” que surgiram após a operação policial. A empresa reforçou seu compromisso com a ética, transparência e responsabilidade na condução dos negócios.
A operação “Carbono Oculto” e os impactos reputacionais
A operação da PF, batizada de “Carbono Oculto”, revelou um esquema de lavagem de dinheiro que envolvia fintechs e fundos de investimento supostamente utilizados por facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), para ocultar e reinvestir recursos oriundos de atividades ilegais, como adulteração de combustíveis e sonegação fiscal.
A sede da Reag, localizada na Avenida Faria Lima — coração financeiro de São Paulo — foi alvo de mandados de busca e apreensão. Embora a empresa tenha negado qualquer envolvimento com estruturas ilegais, o impacto da operação foi suficiente para provocar uma debandada na alta cúpula da gestora.
Renúncias e extinção de órgãos internos
Além de Mansur, outros nomes importantes deixaram seus cargos: Altair Tadeu Rossato, conselheiro independente e membro do comitê de auditoria, e Fabiana Franco, diretora financeira. Dias antes, os membros do conselho consultivo já haviam renunciado, levando à extinção do órgão que assessorava o Conselho de Administração.
O futuro da Reag: reconstrução e vigilância
Com a nova configuração acionária e a promessa de manter os pilares da governança corporativa intactos, a Reag tenta virar a página e reconquistar a confiança do mercado. A operação da PF, no entanto, acendeu um alerta sobre os riscos sistêmicos que envolvem o uso indevido de instrumentos financeiros por organizações criminosas.
A expectativa agora é que os novos controladores consigam blindar a gestora de futuras crises reputacionais e que o Banco Central e a CVM intensifiquem a fiscalização sobre o setor, especialmente em tempos de crescente sofisticação das estruturas de lavagem de dinheiro.